sábado, 26 de fevereiro de 2011

Usabilidade é o principal em um projeto de interface?

Nem sempre a usabilidade é o elemento mais importante para o sucesso em projetos de interface.Também tem valor uma boa interface social, que possibilite interações entre pessoas.

Muito se comenta sobre a “sopa de letrinhas” que envolve o trabalho do arquiteto de informação, bem como do designer de interfaces, ou ainda do user experience designer. Isso sem falar nas siglas que envolvem cada um deles.

A própria diversidade de nomenclaturas usadas para identificar em geral a execução de um único tipo de trabalho – tendo em vista a realidade de mercado brasileira, é bom ressaltar – denota como temos essa enorme necessidade de nos apegarmos a padrões e conceitos que na maior parte das vezes não fazem sentido se não for levado em conta o contexto em que são empregados.

Outra ideia bastante difundida há quase uma década, e que contrasta com o exposto acima, é a usabilidade como principal elemento de sucesso em projetos de interface. Pois bem. Seria essa afirmação uma verdade baseada em fatos reais, ou uma falácia conveniente?

Essa foi uma das diversas reflexões interessantes levantadas pelo designer Eduardo Agni em sua palestra “Social Interface Design”, na Campus Party 2011, ocorrida entre os dias 17 e 23 de janeiro em São Paulo.

A resposta a essa pergunta você pode conferir no início da parte 2 do vídeo abaixo, mas, para adiantar um pouco dessa conversa, imagine que o Napster (lembra dele?) foi o software mais usado do mundo na época em que foi lançado, mesmo possuindo uma interface ruim em termos de usabilidade.

A falha grave, no caso, é que na janela principal do sistema havia botões aonde deveria haver abas, impossibilitando o usuário de alternar as telas. Só que, por outro lado, o Napster possibilitava uma interação social entre as pessoas no compartilhamento de arquivos de música, o que culminou no sucesso da interface.

A tragédia dos comuns

Outro ponto importante apresentado por Agni na palestra foi o cruzamento entre o que chamou de “design defensivo” e “design social”. No primeiro caso, a usabilidade preconiza que o sistema deverá sempre apontar ao usuário o que fez de errado na execução de uma determinada tarefa, para em seguida orientar como ele poderia corrigir o erro.

E isso é uma verdade, em se tratando de uma interface homem-computador. Porém, ao se observar o contexto do design social, é preciso levar em conta toda uma sociedade interligada, não apenas um indivíduo interagindo com o sistema. Logo, a interface social serve para que a sociedade como um todo obtenha sucesso, mesmo que para isso um usuário tenha que falhar na execução de uma determinada tarefa.

Como argumento que serve de base para esse raciocínio, Agni cita o termo “tragédia dos comuns”, usado pelos economistas para se referir a um recurso da sociedade que acaba esgotado em benefício de um único indivíduo – como por exemplo o madeireiro que devasta uma floresta em prejuízo da sociedade.

Transpondo esse raciocínio para a web, quando um usuário envia spam para uma lista, pelo preceito do design defensivo ele seria avisado do erro que cometeu e solicitado a não mais cometê-lo. Porém uma lista de discussão serve como uma espécie de “comunidade virtual”, aonde o que está em jogo é o equilíbrio do grupo como um todo, não apenas de um único indivíduo.

“A partir do momento que alguém entra na lista e tenta se aproveitar do recurso da sociedade em benefício próprio, ele está prejudicando toda a sociedade. Nesse caso, o design de interface social não vai pensar em ajudar essa pessoa a corrigir o erro dela, mas sim em ajudar a sociedade a se manter em harmonia”, explica Agni.

Dessa forma, pelo insucesso da ação, o usuário que praticasse o spam seria desencorajado a praticá-lo mais vezes.

Mas antes que se pense erroneamente que a usabilidade não é importante em um projeto de interface, nas palavras de Eduardo Agni, “além de ter uma boa usabilidade, é preciso que haja no projeto uma boa interface social, que possibilite interações não entre pessoas e máquinas, mas entre pessoas E pessoas, que é o que os usuários buscam principalmente hoje na web”.

E cita a história da criação do Facebook por Mark Zuckerberg, que era um programador acostumado a ler código, não um especialista em interface. E, no entanto, foi quem criou a empresa que hoje já é mais lucrativa que o Google, e em muito menos tempo de vida.

Fonte: Webinsider

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