segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Os livros que fazem a cabeça dos candidatos e partidos

O que há em comum entre o russo Fiódor Dostoiévski e o mineiro Guimarães Rosa? A resposta: Dilma Rousseff, José Serra e Plínio de Arruda Sampaio. Os dois escritores são obras de referência para três dos quatro principais candidatos à Presidência da República ouvidos pelo GLOBO. Já Marina Silva fala de leituras mais direcionadas, em sua maioria livros a que foi apresentada na Faculdade de História.

A coincidência das citações ao autor de “Grande sertão: veredas”, clássico da literatura brasileira quase obrigatório nas leituras de escola, não é fortuita neste momento eleitoral, avalia o cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Leonardo Barreto:

— É um livro de grande identidade nacional. Mostra a cara do Brasil, o sertão, cria novas palavras, uma nova linguagem.

Além das leituras fundamentais para a formação de cada candidato, a reportagem do GLOBO tentou fazer um apanhado dos livros que estão por trás dos ideários dos partidos políticos. É quase impossível, porém, medir a verdadeira extensão da bibliografia que rege os projetos de campanha. Tampouco é tarefa simples distinguir a linha tênue que separa novas ideias de obras clássicas.

Os próprios coordenadores de campanha têm dificuldade de identificar livros específicos. Garantem que o que está sendo apresentado à população é fruto, em boa medida, da experiência dos integrantes dos partidos políticos e da consulta popular que realizaram nos últimos meses. Além disso, os programas são feitos por especialistas que têm os seus livros de referência ou são eles próprios a obra de referência.

Mesmo assim, especialistas ouvidos pelo GLOBO conseguem enxergar obras importantes que permeiam as campanhasde 2010. Os desenvolvimentistas voltaram à moda e parecem estar presentes em boa parte dos projetos defendidos pelos partidos nestas eleições.

— A importância do mercado e do Estado se alternam no capitalismo ocidental — diz Eduardo Raposo, coordenador de pós-gradução e professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio.

Além da relevância intelectual, livros acadêmicos muitas vezes também adquirem importância política, lembra Eduardo Raposo, da PUC-Rio. Textos que não tiveram receptividade durante o período predominantemente liberal que sucedeu as crises das décadas de 70 e 80 voltam a ter influência política hoje, dois anos após a maior crise econômica global desde 1929. Isso explica o retorno dos desenvolvimentistas após três décadas de monetaristas.

Para Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), o keynesianismo está muito claro no programa do PT, quando se discute a intervenção do Estado na economia. Tampouco se pode descartar, segundo ele, a influência de pensadores de viés estatista, como o conservador Oliveira Viana, autor de “Evolução do povo brasileiro”. A democracia mais participativa da britânica Carole Pateman, elaborada em livros como “Participation and Democratic Theory”, também tem suas influências sobre o partido, diz.

Um dos coordenadores do programa do PT, Marco Aurélio Garcia, afirma que são mais documentos e experiências de pessoas do que livros propriamente que compuseram o programa. Recentemente, no entanto, ele e Emir Sader lançaram o livro, que já está na terceira edição, “Brasil, entre o passado e o futuro” (Boitempo), com a colaboração de alguns intelectuais — integrantes do governo ou não — com propostas para o país.

Diz-se que este ano a campanha petista recebeu uma pitada extra de esquerda. O sinal estaria no documento “A Grande Transformação”, feito por Garcia e debatido no 4 Congresso Nacional do PT no início do ano, que serviu de minuta para a plataforma de governo da candidata oficial. Ele esboça planos de um pós-Lula mais à esquerda. A começar pelo título retirado do livro do economista austro-húngaro Karl Polanyi (1886-1964), uma obra de referência dos críticos do capitalismo.

O PSDB, segundo Leonardo Barreto, surgiu dentro da literatura social-democrata, com influências de um de seus principais autores, Fernando Henrique Cardoso. Mas, com Serra, a visão tradicional do partido de que o Estado tem um papel regulatório na economia é mais relativa. Parte do que defende o presidenciável estaria em seus próprios livros, diz Barreto.

— O Serra não é o FHC. Ele é da escola cepalina (da Cepal — Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) e de uma matriz de pensamento que se aproxima mais do PT quando se imagina o papel do Estado na economia — afirma o professor.

Xico Graziano, um dos coordenadores da campanha do PSDB, fala da rede colaborativa usada para montar as propostas do partido. Ele próprio visitou 13 estados dos país com o apoio dos aliados para verificar as diferentes visões de um mesmo problema. Um autor que lhe ocorreu durante a entrevista ao GLOBO foi o sociólogo Ignacy Sachs, que considera a sustentabilidade um conceito dinâmico, que traz uma visão de desenvolvimento que busca superar o reducionismo e estimula o diálogo entre os conceitos econômicos.

A bibliografia do PV, segundo o especialista Leonardo Barreto, é mais inovadora, tem uma perspectiva pós-moderna dos anos 90. Os integrantes do partido teriam deixado as fileiras marxistas para levantar outros casos. Valorizam a identidade das mulheres, das minorias étnicas, carregam a bandeira das políticas ambientais. Também se aproximam de Carole Pateman, de Habermas (com a questão da democracia deliberativa) e John Rawls (autor de “Uma teoria da justiça”). Tasso Azevedo, um dos coordenadores de conteúdo da campanha, uma das mais organizadas, afirma que o programa surgiu das reuniões dos grupos de colaboradores (90 pessoas). Além disso, foram criadas redes de contato para discutir cada um dos temas com quatro ou cinco especialistas, por assunto, e a sociedade.

Sobre o programa do PSOL, o candidato Plínio de Arruda Sampaio garante que a base são os grandes pensadores brasileiros: Caio Prado Jr., Florestan Fernandes e Celso Furtado. Deste último, Plínio destaca “Brasil: a construção interrompida” (Paz e Terra).

— Estas são pessoas que pensaram a formação brasileira. Eles levantaram as questões fundamentais do país: a exclusão social e a dependência, temas que nos interessam.


Fonte: Globo.com

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Leia um livro e ganhe dinheiro

Basta dar uma olhada nas prateleiras das livrarias ou na lista de livros mais vendidos para imaginar que obras de finanças pessoais e empreendedorismo estão em alta. Está em expansão o setor que reúne títulos como "Pai Rico, Pai Pobre" (Ed. Campus, 2002), de Robert Kiyosaki e Sharon L. Lechter; "Os Segredos da Mente Milionária" (Sextante, 2006), de T. Harv Eker; "As Mulheres e o Dinheiro" (Nova Fronteira, 2009), de Suze Orman; "O Milionário que Existe em Você" (Ed. Record, 2000), de Victor Zaremba, e "O Assunto é Dinheiro" (Saraiva, 2006), de Carlos Alberto Sardenberg e Mara Luquet, entre tantas outras obras que ensinam a administrar o seu dinheiro.

Em 2009, a área de economia, administração, negócios e finanças produziu cerca de 3,8 milhões de exemplares de livros, segundo levantamento da Câmara Brasileira do Livro. Mas esse número ainda representa uma participação pequena no mercado, considerando todos os seus setores: 0,98%. Não é possível comparar os dados com o de anos anteriores, pois a CBL modificou a metodologia de pesquisa de 2008 para 2009 para aperfeiçoar o levantamento. Mas alguns profissionais do ramo confirmam que o setor está aquecido.

Para Roseli Boschini, vice-presidente da editora Gente, o brasileiro vem desenvolvendo uma maior consciência sobre seus gastos. "A gente vê jovens com essa preocupação", diz. Para ela, isso se deve ao crescimento econômico. Mais pessoas se formam em nível superior e uma parcela da população está sendo melhor remunerada. Assim, sobra mais dinheiro para investir. Só com os oito títulos do setor que tem em seu catálogo, a editora já vendeu 971 mil exemplares desde 2003, grande parte deles (840 mil) do best-seller "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos", de Gustavo Cerbasi.

Em contrapartida, abalos na economia mundial podem, igualmente, afetar o setor. Segundo Igdal Parnes, diretor da editora Campus-Elsevier, em 2008 o número de publicações da área de finanças foi um dos melhores em muitos anos, mas o segmento sofreu com a crise mundial daquele ano. Para Parnes, esse é um setor de alto risco por contar com muitas publicações no mercado. "Cautela é a palavra de ordem na hora de eleger um título para publicar", afirma o diretor da Campus, que conta com 100 obras nessa área.

Mas, mesmo com a crise, a demanda ainda existe. Segundo o consultor e professor José Dornellas, o controle da inflação há pouco mais de uma década atrás permitiu que a população passasse a poupar. "As pessoas estão perdendo o medo de investir", diz Dornellas, autor de "Empreenda nos Finais de Semana (e Fique Rico)", entre outras obras publicadas pela editora Saraiva, que de janeiro a agosto de 2010 havia vendido 76.375 exemplares dos 47 títulos do setor de finanças em seu catálogo.

Dornellas diz que vem percebendo uma demanda principalmente da classe C por esse tipo de informação financeira. São pessoas que pretendem abrir seu próprio negócio: salões de beleza, restaurantes e lojas, incentivadas pelo aumento do poder de compra nesse setor da população.

O educador Reinaldo Domingos, presidente do Instituto DiSOP de Educação Financeira e autor de títulos como "Terapia Financeira" (Ed. Gente, 2008), concorda que a melhora na situação econômica do país ajudou a puxar o interesse dos leitores. Mas alerta: para ele, o mercado está cheio de obras repletas de jargões e lugares comuns. "A verdadeira educação financeira é mais profunda, e envolve um processo de mudança comportamental", diz Domingos, que idealizou, em 2009, a primeira coleção de livros didáticos de educação financeira para o ensino básico do país e já realizou programas de capacitação de professores em 30 escolas particulares pelo Brasil.

Para separar o joio do trigo, José Dornellas sugere pesquisar o histórico do autor antes de investir seu dinheiro em uma obra que promete maravilhas para o seu bolso. "Às vezes livros bons não vendem muito, e nem sempre os best-sellers são os melhores",

Fonte:  Yahoo

sábado, 4 de setembro de 2010

O tempo do livro impresso passou

O livro impresso serviu seu propósito como suporte durante muitos séculos. Em torno dele se fez uma indústria, que hoje é nociva aos interesses das pessoas. Você concorda?

Livros em uma estante são apenas literatura em potencial.

C. S. Lewis, da coleção de frases.
 
Recebo de um amigo virtual a seguinte mensagem depois de ter postado isso no Twitter:

Existe algo + s/ sentido do q “Bienal do Livro”? Ñ seria “Bienal das ideias presas nos livros”? Protesto: ”Libertem as ideias!”. Concordas?

Ele me manda: Eu entendo tua posição sobre o “formato”. Mas livro é uma relação de cumplicidade, de intimidade que é difícil desqualificar. Claro que hoje eu sou adepto do debate, do aprender observando as ideias livres ao vento, compartilhamento, etc. Mas nem por isso deixo de lado o êxtase sensorial que é ler um livro sentado na cadeira enquanto tomo sol no quintal.Vamos dizer que eu sou como o cara que coleciona disco de vinil mas não deixa de ouvir MP3. Grande abraço. Rodrigo Leme, que fez a ode ao livro no blog dele.

Temos que separar algo bem importante que é o fetiche pelo livro para o que ele representa, tanto quanto opressão ou libertação.

O livro é o condutor de ideias.

Serviu a seu propósito como suporte durante muitos séculos e mais diretamente nos últimos 550 anos com o livro impresso. Em torno dele se fez uma indústria, que, a meu ver, é nociva hoje aos interesses das pessoas.

Hoje, com o suporte digital, deve-se ver o livro como algo opcional e não obrigatório. Devo poder ler tudo que quiser na rede e se quiser ter o fetiche do papel, pagar por ele.

Porém, um deve independer do outro.

As editoras, hoje, são fortes elementos conservadores na sociedade, assim como foram as Igrejas e a Monarquia na Idade Média.

Evitar que um ser humano tenha acesso às ideias de outros, a meu ver, é um disparate que deve ser combatido! Ganha-se dinheiro escondendo conhecimento! No fundo, é isso!

Antes, tinha-se a desculpa do custo, ok. Porém hoje todo livro é digitalizado para ser produzido e opta-se por não divulgá-lo em nome do lucro, do mercado, do negócio.

É insano isso.

Não vou saber algo que pode melhorar minha vida, pois não tenho dinheiro para pagar.

Pense bem nisso, de maneira geral, sem estar envolvido com o que estamos acostumados…

As editoras devem, ao contrário, sair da postura reacionária de impedir o conhecimento para ganhar dinheiro na difusão maior do conhecimento. Quanto mais ideias de qualidade, melhor para todos!

Tipo, ao invés de “vender” o autor em formato de livro, “vender” suas ideias em qualquer formato, mas sempre garantindo que um básico esteja para todos. Quanto mais as pessoas absorverem novas ideias, mas vão querer consumir novas, quanto menos, menos.

Fecha-se o mercado, quem tem interesse de abrir, pois estão fechadas na venda do suporte e não do miolo.

Problema cognitivo. Estamos tão aprisionados nesse conceito livro, como fetiche, que não vemos o quanto eles são autoritários, anti-ecológicos e excludentes socialmente.

O tempo deles passou, invente-se outra coisa. Abaixo a ditadura dos livros, que aprisionam ideias!

Feito o protesto… Que dizes?

 Fonte: Webinsider