domingo, 28 de março de 2010

Voltam os vinis e chegam os livros digitais no Brasil

A Livraria Cultura, uma das mais tradicionais do país, se prepara para a chegada de 120 mil livros digitais: vendas de vinis, CDs e DVDs também cresceram em tempos de downloads

A esposa de Sérgio Herz, diretor da Livraria Cultura, presenteou-o há pouco tempo com um tocador de vinis. O agrado, que pareceria algo antiquado se não fosse a entrada USB e compatibilidade com CDs e MP3, fez com que ele, segundo o próprio, “voltasse no tempo” e comprasse discos de alguns de seus clássicos preferidos, como Queen e Led Zepellin.
E parece que ele não é um colecionador solitário. Hoje, diz Herz, as vendas das “bolachas” de sua loja já representam 5% da área musical, algo que era inimaginável três anos atrás. Um fenômeno parecido com o ocorrido em 2009 com suas vendas de CDs e DVDs, que, para a surpresa de muitos, aumentaram 17% em meio à concorrência de torrents, blogs e compartilhadores de arquivos espalhados pela web.
A internet, inclusive, vem sendo uma grande aliada para o diretor da Livraria Cultura. De todas as suas vendas, 18% vêm do online – 80% delas correspondem a livros (o artigo mais comprado por e-commerce no Brasil). Até mesmo o Google Books, vilão para muitas editoras internacionais, é citado por ele como um grande imã para atrair consumidores e leitores pelo site de busca.
Agora, seu desafio é manter os bons números na internet e tentar prever a loucura do mercado da cultura e entretenimento ligado à tecnologia pessoal. Que mídia fica?
Qual sai? O que entra no lugar?
A fim de discutir o tema, Herz aceitou conceder uma entrevista para falar sobre comércio online no Brasil, consumidores, música, burocracia, livros de papel e a mais nova aposta de sua loja: os livros digitais.
Confira a conversa logo abaixo:

Quantos livros digitais virão e quanto custarão?
Vamos começar a comercializar 120 mil títulos, vindos de editoras estrangeiras e nacionais. Os preços são feitos pelas próprias editoras, elas que determinam. Normalmente são mais baratos do que os livros de papel. Em alguns casos, 20% a 25% mais barato. Mas tem livros que são mais caros, por política da editora…

O consumidor do Brasil está preparado para este formato?
O mercado nasceu agora. É um começo e está todo mundo testando. E o consumidor aprende também, tem uma evolução dos dois lados, tanto das empresas que oferecem o serviço quanto de quem está comprando. A probabilidade é o crescimento. Quanto mais device tiver, mais fácil a divulgação. Agora, o que a gente não sabe é exatamente o quanto isso vai ocupar do livro tradicional.

Sérgio Herz, diretor da Livraria Cultura: "Se você pensar e viver na tecnologia, o que você vai ter para mostrar no futuro, uma caixinha e só?"
Pretendem vender leitores de ebooks?
Iremos revender os que existem, quando estiverem no mercado. Hoje não tem ninguém trazendo para o Brasil. Não teremos aparelho de marca própria.

Você já fez uso de algum?
Já e, particularmente, não consegui me adaptar. Tanto com o da Sony, quanto com o Kindle. A principalmente dificuldade não é a tela, é o formato. Preciso ter a visão do todo, daquela coisa de olhar para frente para trás, da página. No Kindle, se você deixar uma letra boa, enxerga praticamente um parágrafo e meio. Isso me incomoda.

Pode-se dizer que o ebook é uma aposta no aumento do poder de compra do brasileiro? Se sim, não seria algo arriscado?
O hábito de leitura é um pouco independente da classe. É óbvio que se tem o cara de uma classe mais simples e ele já lia, quando ele ganhar mais, vai comprar mais. Mas o hábito de leitura não é algo “ah, ganhei mais dinheiro e vou sair comprando livros”. A renda ajuda, sem sombra de dúvidas, mas não ajuda do jeito que ajuda no eletroeletrônico. Nesse setor, as pessoas vão ganhando e comprando geladeira, televisor…

O brasileiro está comprando mais livros pela internet?
Acho que sim, principalmente as cidades que não têm livraria. As cidades que têm livraria, você tem opção de ir à loja. As que não têm, principalmente cidades menores e do interior, as pessoas mais acostumadas ao ambiente eletrônico estão comprando mais. Na nossa opinião, os consumidores não são “monocanais”. Vemos isso todos os dias: o consumidor compra pela internet e compra pela loja física também. O consumidor não é um tipo só. Por exemplo, se quero vender mais em Campinas, tendo a loja física e as pessoas a conhecendo, na hora que as pessoas precisam de conveniência, elas vão até o site. Então, são lojas complementares, não excludentes. Uma loja ajuda a outra.


Qual sua visão sobre a disponibilidade de livros gratuitos na internet, como acontece com o Google Books?
Isso ajuda a vender. A gente tem, inclusive, um acordo com o Google que permite a leitura do livro todo pelo site.

A Livraria Cultura também pretende investir no mercado de musica digital?
Não, por questões burocráticas. É muito mais complexo o mercado de música no Brasil, tanto é que pouquíssima gente está vendendo. E tem outras questões de controle, direito autoral que são muito complexas. Então vamos esperar um pouco. Para se ter uma idéia, uma música que vou vender por um real, tenho às vezes que gerar mais de doze contas a pagar. A questão da música, infelizmente, por questões bastante particulares de pagamentos e controles, exige que esperemos mais.

Os CDs têm vida longa?
Olha, a gente discute isso praticamente todo dia, até quando vão duras essas coisas. Ano passado, CDs e DVDs cresceram 17%. Crescimento real. Você me pergunta quando isso vai acabar, digo: “não sei”. O vinil já significa 5% do meu segmento música, o que três anos era zero. Há pouco fui à uma inauguração de um grande lançamento de uma fábrica vinis (a fábrica Polysom). Então o mundo é muito doido, não dá para responder sobre o futuro. São coisas que, vamos dizer assim, tem cauda longa, afinal, trabalhamos com nicho…

Sabe dizer a causa da volta do vinil?
Tem dois tipos que a gente sente. Tem o nostálgico que coleciona, quer deixar na estante; e tem os mais novos que não conheceram o vinil. Hoje o vinil é diferente, mais moderno. A molecada de 16 anos adora, é uma coisa pessoal. As pessoas vão em casa e olham também. Se você pensar e viver hoje na tecnologia, o que você vai ter para mostrar, uma caixinha e só? Há uma necessidade de colecionar, de mostrar, e isso é o ser humano.

Fonte: Revista Info

quinta-feira, 25 de março de 2010

Intelig lança banda larga por rede elétrica

Algumas regiões de São Paulo ganham acesso à internet banda larga e fixo pela rede elétrica: plano está disponível para 18 mil residências

SÃO PAULO – A Intelig Telecom iniciou, no Brasil, a oferta comercial de banda larga e voz com a tecnologia BPL (Broadband over Powerline Indoor), que permite a transmissão de dados via fios da rede elétrica interna do cliente.

De acordo com a companhia, o lançamento, por enquanto, resume-se a uma pequena parcela do mercado paulista por meio de uma parceria com Eletropaulo Telecom, que forneceu a infraestrutura.

Para usufruir do serviço, o cliente precisa agendar uma instalação presencial com a companhia. Imediatamente depois da visita dos técnicos, os recursos estarão disponíveis.

O plano convergente reúne telefone fixo e internet banda larga, requerendo aos usuários apenas o trabalho de plugar o modem na tomada.

A Intelig informa ainda que, na promoção de lançamento, o cliente não paga a taxa de adesão e os equipamentos (modem e ata) são oferecidos sem qualquer custo para o cliente.

Chamado de InteligCombo, o plano, completo e com velocidade de banda de 10 Mbps, custa R$ 74,90 com impostos - preço que se manterá até março de 2011, segundo a empresa.

O serviço estará disponível primeiramente em Moema, Pinheiros e Jardins, isto é, em 350 edifícios, o que corresponde a 18 mil residências. Não há previsão para a chegada em outras regiões.

Fonte: Revista Info

Feira de Troca de Livros e Gibis 2010

terça-feira, 23 de março de 2010

O encontro dos livros com a web

A mais recente reformulação do site da gigante editorial Simon & Schuster, no mês passado, abriu espaço para um guia de bons modos on-line para escritores. As regras? Abra um blog. Entre no Facebook. Crie conteúdo para redes sociais literárias. Interaja. Nada complexo para qualquer pessoa que tenha atravessado a última década na civilização, mas, vindo de uma das mais tradicionais editoras norte-americanas, o recado foi claro: estão por fora os alarmistas que vêem a internet como um bicho-papão capaz de afastar da literatura quem tem disposição para ler. O crescimento das redes sociais literárias no País no último ano ajuda a entender como o mundo digital e o editorial podem se complementar. A maior delas, o Skoob. No Brasil, a coisa anda mais devagar. Além de participar de redes sociais literárias, a maior parte das editoras criou perfis no Twitter e no Facebook. Quase nenhuma ainda tem um site que vá além da básica "loja online", com estantes nas quais figuram os lançamentos. A mais avançada nesse sentido é a Cosac Naify, que remodelou a página virtual e criou um blog há cinco meses. O segredo, diz o diretor editorial Cassiano Elek Machado, é oferecer material exclusivo., foi criada por um grupo de amigos em dezembro de 2008 e já tem 150 mil cadastrados – há coisa de seis meses, mal passava dos 30 mil.

Fonte: PublishNews

sábado, 20 de março de 2010

Fala que eu te escuto



Os adolescentes britânicos preferem tirar suas dúvidas na Internet do que perguntar ou pedir ajuda a alguma pessoa, como seus próprios pais e amigos, afirma uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira.

Nove em cada dez dos 1.000 entrevistados com menos de 25 anos disseram à pesquisa encomendada pela Get Connected, que usaram a Internet para procurar ajuda para resolver problemas pessoais.

Somente um terço deles afirmaram que se recorriam à mãe para discutir um problema, enquanto somente um em cada vinte falaria com o pai. Metade dos pesquisados disseram que provavelmente falariam com um amigo.

O estudo realizado pela Maximiles Surveys mostrou ainda que mais da metade dos jovens que preferem usar a Internet para solucionar um problema disseram que a informação encontrada os deixaram mais preocupados do que estavam antes.

“À medida em que a sociedade confia cada vez mais na Internet como primeiro ponto de referência para muita informação, é crucial que conscientizemos os jovens sobre onde exatamente eles podem procurar informação e ajuda”, afirmou Andrew McKnigh, presidente da Get Connected.

Fonte: Estadão.com.br

quinta-feira, 18 de março de 2010

1 em 3 leitores pagaria por notícias online

As notícias publicadas na internet são, no geral, gratuitas. Mas quantos leitores estariam dispostos a pagar por elas? Foi a pergunta feita pelo centro de estudos Nielsen em uma pesquisa mundial com 27 mil pessoas em 52 países, obtendo uma resposta negativa em boa parte dos casos.

Na pesquisa, realizada em meados de 2009 em cinco regiões geográficas – Europa, Ásia/Pacífico, Oriente Médio/África/Paquistão, América do Sul e América do Norte -, a Nielsen buscou responder à pergunta que vem chamando a atenção do mercado e dos grandes grupos editoriais nos últimos tempos, uma vez que estão avaliando distribuir conteúdo pago na Internet para combater a crise no setor.

Segundo o estudo, muitos consumidores estariam dispostos a pagar por conteúdo online.

1 em cada 3 entrevistados em 52 países afirmaram que, de fato, considerariam pagar para ter acesso aos sites dos principais jornais.

58% afirmaram ser contrários à medida, enquanto apenas 8% já pagaram para acessar informações online.

85% prefeririam que o conteúdo que hoje em dia é grátis permaneça assim.

Mas uma análise mais profunda das respostas pode ser encorajadora para as empresas de mídia. De fato, afirmou a Nielsen, depende muito do tipo de conteúdo oferecido: quanto maior for o valor atribuído, mais dispostos estariam os entrevistados a pagar

Fonte: Estadao.com.br

Crianças fazem mutirão para salvar livros

A biblioteca é agora o lugar mais disputado na escola estadual. Não é para menos: as prateleiras, antes vazias, ganharam livros didáticos, dicionários, obras de literatura, enciclopédias. Fonte de pesquisa trazida em um mutirão. Os alunos improvisaram o transporte: nas mãos, na carriola ou com ajuda do carro do pai. O importante era resgatar um tesouro jogado fora. As crianças moram no Fazenda Grande, um bairro de gente simples na periferia de Jundiaí. Um lugar sem muitas opções de lazer e cultura. Foi por conta dessa falta de recursos que os moradores ficaram ainda mais indignados nos últimos dias: eles encontraram, abandonados, na calçada, centenas de livros. Todos foram descartados pela direção de uma escola. Segundo a Secretaria de Educação de Jundiaí, a escola que jogou os livros fora está reorganizando a biblioteca. Por isso, os livros desatualizados ficaram à disposição da comunidade. À disposição, na calçada. Ainda bem que as crianças do bairro sabem bem o valor de um livro.

Fonte: http://www.publishnews.com.br

terça-feira, 16 de março de 2010

Biblioteca de São Paulo atrai leitores jovens

No primeiro mês de funcionamento, a moderna Biblioteca de São Paulo, no Parque da Juventude, em Santana, zona norte, conseguiu um de seus principais objetivos: atrair leitores. Doze mil pessoas estiveram em seu prédio no período, deleitando-se com alguns dos 30 mil livros disponíveis, utilizando um dos 80 computadores conectados à internet ou assistindo aos vários DVDs do acervo. "Muito se diz que o Brasil não tem tradição de leitores. Surpreendi-me com o número de frequentadores", admite a diretora da instituição, Magda Montenegro.

A roupagem descolada da biblioteca - colorida, cheia de pufes e sem ninguém fazendo "psiu" ao menor barulho - tem atraído leitores jovens. Prova disso é que os dois títulos mais procurados pelos 4 mil usuários que já fizeram carteirinha são best-sellers infanto-juvenis ("Querido Diário Otário", de Jim Benton, com 54 locações; e "Harry Potter e o Cálice de Fogo", de J. K. Rowling, 25 retiradas).

Entretanto, nem tudo é perfeito na instituição, inaugurada com pompa pela Secretaria de Estado da Cultura sob o rótulo de "modelo". Dois repórteres do jornal O Estado de S. Paulo estiveram no local - sem se identificar como jornalistas - duas vezes cada um nas últimas quatro semanas e tentaram usufruir de toda a sua estrutura.

As primeiras impressões são positivas. Difícil não usar a frase "nem parece que estou em uma biblioteca" - referindo-se, óbvio, ao padrão sisudo vigente desde sempre, responsável por associar à biblioteca a pecha da chatice. A Biblioteca de São Paulo tem cara dessas livrarias megastore, com estantes atraentes e funcionários simpáticos - dos 51 que atuam ali, 23 ficam só no atendimento - prontos a lhe recomendar a leitura adequada ao seu perfil. O acervo também tem seus atrativos, por mesclar os clássicos com lançamentos.

Problemas

Mas - e, sejamos justos, talvez pelo fato de a abertura ser recente - os problemas não demoram a aparecer. Para a simples confecção da carteirinha, uma espera de 22 minutos, por exemplo. Quer usar um dos oito leitores digitais que a biblioteca tem? Difícil. Nas duas vezes, o repórter ouviu que eles "estão guardados em uma sala porque ainda falta definir como serão usados". "Volte daqui a alguns dias", aconselhou a atendente.

Da segunda vez - três semanas depois -, a questão foi passada de funcionário para funcionário até, meia hora mais tarde, a resposta ser a mesma. "Realmente ainda não descobrimos como oferecer essa tecnologia para o público", afirma a diretora. "Em 20 dias, isso estará resolvido."

Outra negativa quando o repórter tentou pegar emprestados três livros do acervo, para estrear sua carteirinha - "Rasif", de Marcelino Freire; "O Livro Amarelo do Terminal", de Vanessa Barbara; e "Nunca Antes na História deste País", de Marcelo Tas. "Eles ainda não estão catalogados, por isso não podem ser retirados", informou a moça do balcão. "Os 2 mil livros comprados mais recentemente não foram para o sistema. Levaremos 30 dias para incluí-los", confirma Magda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

'Eletrônicos duram 10 anos; livros, 5 séculos'

Umberto Eco, ensaísta e escritor italiano, fala em entrevista exclusiva de seu novo trabalho, 'Não Contem com o Fim do Livro'

O bom humor parece ser a principal característica do semiólogo, ensaísta e escritor italiano Umberto Eco. Se não, é a mais evidente. Ao pasmado visitante, boquiaberto diante de sua coleção de 30 mil volumes guardados em seu escritório/residência em Milão, ele tem duas respostas prontas quando é indagado se leu toda aquela vastidão de papel. "Não. Esses livros são apenas os que devo ler na semana que vem. Os que já li estão na universidade" - é a sua preferida. "Não li nenhum", começa a segunda. "Se não, por que os guardaria?" Na verdade, a coleção é maior, beira os 50 mil volumes, pois os demais estão em outra casa, no interior da Itália. E é justamente tal paixão pela obra em papel que convenceu Eco a aceitar o convite de Jean-Phillippe de Tonac para, ao lado de outro incorrigível bibliófilo, o escritor e roteirista Jean-Claude Carrière, discutir a perenidade do livro tradicional. Foram esses encontros que resultaram em Não Contem Com o Fim do Livro, que a Record lança em abril. A conclusão é óbvia: tal qual a roda, o livro é uma invenção consolidada, a ponto de as revoluções tecnológicas, anunciadas ou temidas, não terem como detê-lo. Leia a entrevista ao Sabático, o novo suplemento cultural do jornal de O Estado de S. Paulo, em que Eco fala sobre preservação da memória, biblioteca X internet, Dan Brown, suas lembranças do Brasil e muito mais.
O livro não está condenado, como apregoam os adoradores das novas tecnologias?

O desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas, que me perguntam isso há 15 anos. Mesmo eu tendo escrito um artigo sobre o tema, continua o questionamento. O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os eletrônicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos. Afinal, ciência significa fazer novas experiências. Assim, quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos? Conversei recentemente com o diretor da Biblioteca Nacional de Paris, que me disse ter escaneado praticamente todo o seu acervo, mas manteve o original em papel, como medida de segurança.

Qual a diferença entre o conteúdo disponível na internet e o de uma enorme biblioteca?

A diferença básica é que uma biblioteca é como a memória humana, cuja função não é apenas a de conservar, mas também a de filtrar - muito embora Jorge Luis Borges, em seu livro Ficções, tenha criado um personagem, Funes, cuja capacidade de memória era infinita. Já a internet é como esse personagem do escritor argentino, incapaz de selecionar o que interessa - é possível encontrar lá tanto a Bíblia como Mein Kampf, de Hitler. Esse é o problema básico da internet: depende da capacidade de quem a consulta. Sou capaz de distinguir os sites confiáveis de filosofia, mas não os de física. Imagine então um estudante fazendo uma pesquisa sobre a 2.ª Guerra Mundial: será ele capaz de escolher o site correto? É trágico, um problema para o futuro, pois não existe ainda uma ciência para resolver isso. Depende apenas da vivência pessoal. Esse será o problema crucial da educação nos próximos anos.

Não é possível prever o futuro da internet?

Não para mim. Quando comecei a usá-la, nos anos 1980, eu era obrigado a colocar disquetes, rodar programas. Hoje, basta apertar um botão. Eu não imaginava isso naquela época. Talvez, no futuro, o homem não precise escrever no computador, apenas falar e seu comando de voz será reconhecido. Ou seja, trocará o teclado pela voz. Mas realmente não sei.

Como a crescente velocidade de processar dados de um computador poderá influenciar a forma como absorvemos informação?

O cérebro humano é adaptável às necessidades. Eu me sinto bem em um carro em alta velocidade, mas meu avô ficava apavorado. Já meu neto consegue informações com mais facilidade no computador do que eu. Não podemos prever até que ponto nosso cérebro terá capacidade para entender e absorver novas informações. Até porque uma evolução física também é necessária. Atualmente, poucos conseguem viajar longas distâncias - de Paris a Nova York, por exemplo - sem sentir o desconforto do jet lag. Mas quem sabe meu neto não poderá fazer esse trajeto no futuro em meia hora e se sentir bem?

É possível existir contracultura na internet?

Sim, com certeza, e ela pode se manifestar tanto de forma revolucionária como conservadora. Veja o que acontece na China, onde a internet é um meio pelo qual é possível se manifestar e reagir contra a censura política. Enquanto aqui as pessoas gastam horas batendo papo, na China é a única forma de se manter contato com o restante do mundo.

Em um determinado trecho de 'Não Contem Com o Fim do Livro', o senhor e Jean-Claude Carrière discutem a função e preservação da memória - que, como se fosse um músculo, precisa ser exercitada para não atrofiar.

De fato, é importantíssimo esse tipo de exercício, pois estamos perdendo a memória histórica. Minha geração sabia tudo sobre o passado. Eu posso detalhar sobre o que se passava na Itália 20 anos antes do meu nascimento. Se você perguntar hoje para um aluno, ele certamente não saberá nada sobre como era o país duas décadas antes de seu nascimento, pois basta dar um clique no computador para obter essa informação. Lembro que, na escola, eu era obrigado a decorar dez versos por dia. Naquele tempo, eu achava uma inutilidade, mas hoje reconheço sua importância. A cultura alfabética cedeu espaço para as fontes visuais, para os computadores que exigem leitura em alta velocidade. Assim, ao mesmo tempo que aprimora uma habilidade, a evolução põe em risco outra, como a memória. Lembro-me de uma maravilhosa história de ficção científica escrita por Isaac Asimov, nos anos 1950. É sobre uma civilização do futuro em que as máquinas fazem tudo, inclusive as mais simples contas de multiplicar. De repente, o mundo entra em guerra, acontece um tremendo blecaute e nenhuma máquina funciona mais. Instala-se o caos até que se descobre um homem do Tennessee que ainda sabe fazer contas de cabeça. Mas, em vez de representar uma salvação, ele se torna uma arma poderosa e é disputado por todos os governos - até ser capturado pelo Pentágono por causa do perigo que representa (risos). Não é maravilhoso?

No livro, o senhor e Carrière comentam sobre como a falta de leitura de alguns líderes influenciou suas errôneas decisões.

Sim, escrevi muito sobre informação cultural, algo que vem marcando a atual cultura americana que parece questionar a validade de se conhecer o passado. Veja um exemplo: se você ler a história sobre as guerras da Rússia contra o Afeganistão no século 19, vai descobrir que já era difícil combater uma civilização que conhece todos os segredos de se esconder nas montanhas. Bem, o presidente George Bush, o pai, provavelmente não leu nenhuma obra dessa natureza antes de iniciar a guerra nos anos 1990. Da mesma forma que Hitler devia desconhecer os relatos de Napoleão sobre a impossibilidade de se viajar para Moscou por terra, vindo da Europa Ocidental, antes da chegada do inverno. Por outro lado, o também presidente americano Roosevelt, durante a 2.ª Guerra, encomendou um detalhado estudo sobre o comportamento dos japoneses para Ruth Benedict, que escreveu um brilhante livro de antropologia cultural, O Crisântemo e a Espada. De uma certa forma, esse livro ajudou os americanos a evitar erros imperdoáveis de conduta com os japoneses, antes e depois da guerra. Conhecer o passado é importante para traçar o futuro.


Fonte: http://www.publishnews.com.br

sábado, 13 de março de 2010

Moradores de Nova York abandonam livros velhos

As bibliotecas da cidade chegam a recusar doações por causa do volume de livros rejeitados. Alguns são salvos e vendidos em banquinhas de rua, outros são reciclados e viram até caixa de pizza.

De Nova York, uma das maiores metrópoles do mundo, o novo correspondente da Globo, Flávio Fachel, mostra um hábito estranho dos moradores.

Na cidade grande dos apartamentos apertados, espaço pode valer mais que cultura. Depois de uma mudança, é comum achar nos apartamentos vazios de Manhattan livros pesados e volumosos. E muita gente se muda todos os dias.

O zelador de um prédio confirma: pelo menos uma vez por mês, recolhe vários livros abandonados pelos moradores e os entrega para o lixeiro. O que ele sente quando faz isso? “É desperdício de conhecimento, uma vergonha”, ele diz.

As bibliotecas da cidade chegam a recusar doações por causa do volume de livros rejeitados que são oferecidos todos os dias. Alguns são salvos por camelôs. À noite, um deles diz que passa nas latas de lixo, seleciona livros que foram jogados fora e põe tudo à venda na calçada. Existem centenas de banquinhas espalhadas por Nova York. Alguns livros, recebem preço não muito nobre. Outros, tem melhor sorte.

Ninguém sabe exatamente quantos livros acabam ficando para trás nesse entra e sai de gente em apartamentos para alugar em Nova York.

Mas numa loja especializada em compra e venda de livros usados, nós descobrimos que, pelo menos alguns, podem ser redescobertos.

Como um que faz parte da primeira edição de ‘Alice no país das maravilhas’ e que foi avaliado em US$ 15 mil. Agora, em vez de ficar esquecido no fundo de um armário, o lugar dele é dentro de um cofre.

Mas o destino da gigantesca maioria dos livros abandonados na cidade é mesmo uma barcaça. Todos os dias, ela ajuda a recolher 1,6 mil toneladas de papel para uma usina de reciclagem.

Não é preciso caminhar muito no lixo para achar livros de química, romances populares e até livros infantis.

Eles são triturados junto com o resto dos papéis e transformados numa massa cinza que, oito horas depois, vira papelão.

Os livros podem até ter desaparecido, mas, de uma forma ou de outra, continuam ajudando a escrever uma outra página da cultura americana. Lá na usina de reciclagem, eles viram caixas de pizza, que são vendidas nas esquinas de Manhattan.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Unesp lança coleção de livros digitais (e gratuitos)


A Unesp lança hoje coleção de livros em formato digital, com acesso integral e gratuito. Os primeiros 44 títulos já estão disponíveis para download no site www.culturaacademica.com.br.

Segundo a instituição, o internauta leva menos de 1 minuto para baixar cada material.

Este é maior projeto de difusão de obras de uma universidade brasileira. Nos próximos 10 anos, a previsão de publicação é de 600 livros, nas áreas de ciências humanas, ciências sociais e aplicadas e linguística, letras e artes. Os trabalhos foram selecionados pelos Conselhos de Programas de Pós-Graduação e editados pela Fundação Editora Unesp (FEU).

terça-feira, 9 de março de 2010

Para quem está chegando agora

Estou querendo entrar na área digital. Você teria uma dica para iniciantes?

Algumas dicas:
1. Não tenha medo de começar por baixo. Comece por onde der e vá subindo. Agarre a primeira oportunidade que passar pela sua frente.

1. Olhe para áreas que não estejam muito saturadas, onde pode ser mais fácil encontrar espaço. Exemplo: planejamento ao invés de direção de arte. Cliente ao invés de agência.

3. Esquente a cadeira. Não pule de galho em galho trocando de emprego a cada x meses. Encontre um lugar, um projeto e faça ele acontecer antes de seguir adiante.

4. Estude com diversidade. Consuma todo tipo de mídia de forma indiscriminada. Conheça de MadMen aos indicados para o paredão da semana no BBB.

5. Encare o desafio da publicidade de verdade. Olhe para o Brasil, pense grande, pense em efetividade. Não se contente com o mundo das sacadinhas que só servem para quem sacou. Publicidade é propaganda. Propaganda é povo, é volume, é massa.

6. Reinvente a maneira de se fazer publicidade. A era é agora e a oportunidade é sua, é nossa, é de quem quiser, quem vier.

Fonte: http://webinsider.uol.com.br/2010/03/05/para-quem-esta-chegando-agora/

quarta-feira, 3 de março de 2010

Qual é a sua reputação na web?

Menoncello: alertas por e-mail quando seu nome é citado na web

SÃO PAULO - Como descobrir se a sua imagem profissional na internet é positiva ou se queima o filme.

O que pessoas estão dizendo sobre mim na internet? Para matar a dúvida, o desenvolvedor de software Eduardo Menoncello, de 29 anos, configura a ferramenta Google Alerts para enviar por e-mail todas as informações referentes ao seu nome. Há pouco tempo, ele se surpreendeu com a citação do seu nome na página principal da comunidade de desenvolvedores da Microsoft. “Foi uma boa surpresa. Todos devemos checar a reputação online regularmente, principalmente para protegê-la”, diz. Menoncello mantém dois blogs para discutir assuntos profissionais, o sucessoativo.com.br e o pensando.net. “Isso me traz bons contatos e já rendeu até propostas de emprego.”

Além da simples busca com o próprio nome, há outras formas de obter pistas para saber se você anda exibindo uma imagem positiva ou não na internet. Criar um blog para falar sobre sua área de atuação profissional, como fez Menoncello, pode dar um impulso na carreira. Uma das métricas que indicam que o blog tem uma boa reputação são os links que vêm de outros blogs, os incoming links. Para checar, basta digitar no Google “link:” e a URL do seu blog. “Também é importante que o blog tenha atualização constantemente, um bom número de assinantes do RSS e que o blogueiro dê atenção aos leitores”, afirma Alessandro Barbosa, CEO da E.Life, empresa que acompanha a reputação de marcas e nomes de executivos nas redes sociais.

No Twitter, o número de seguidores e de retuítes é um bom índice quantitativo para medir sua reputação online. Mas a informação que reflete qualitativamente sua imagem, segundo Barbosa, é a inclusão do seu perfil em listas de boa reputação. Para verificar onde seu perfil está listado, clique em “lists”, que fica no canto direito do seu perfil. Outra ferramenta útil para o tuiteiro é o Twittercounter.com, para verificar se muitas pessoas estão deixando de segui-lo. Para não queimar a reputação, também é importante ficar de olho se não andam aparecendo perfis falsos em alguma rede social. “Já pedimos para o Google retirar perfis falsos de executivos nas redes sociais e fomos atendidos em dois ou três dias”, diz Barbosa.

Edney Souza, sócio da Pólvora Comunicação, assina tags do seu nome no YouTube, Flickr e Delicious e recebe as informações no Google Reader. Ao perceber comentários negativos, ele não costuma entrar no debate. “Em 90% das provocações, o melhor é não responder, pois você acaba dando mais visibilidade para o comentário negativo. Melhor é publicar informações interessantes para que elas apareçam mais”, diz.

Espiadinha básica

Na opinião dos headhunters, o profissional precisa saber a dose certa entre se expor e se preservar. “As redes sociais, blogs e outras ferramentas da web promovem uma troca rica e permitem aos profissionais mostrar suas competências aos outros. Nenhum profi ssional pode mais ficar fora disso, mas é preciso ter cuidado para não expor demais suas informações pessoais”, diz Patrícia Epperlein, sóciadiretora da consultoria de RH Mariaca.

Na Abrahams Executive Search, especializada em recrutamento de executivos, os consultores fazem uma pesquisa básica na internet para buscar referências sobre o profissional sondado. “É claro que eles olham o orkut, Facebook e LinkedIn para saber os relacionamentos e interesses”, diz Jeffrey Abrahams, sócio da empresa. Na consultoria ASAP, os recrutadores também fazem a busca, mas somente com os finalistas a uma vaga. “Se o cliente nos pede um relatório de referências, checamos o conteúdo que ele publica em redes sociais”, diz.

Empresas como a HP e a IBM mantêm um código de conduta com regras de comportamento. Apesar de incentivar a disseminação de conhecimento pelas redes sociais, a HP tem uma regra que proíbe o funcionário de comentar uma proposta de negócio em qualquer ambiente, seja em uma roda de amigos, seja em um blog, segundo Regina Macedo, diretora de marketing corporativo.

Na IBM, cerca de 20% da força de trabalho participa de blogs diariamente. Segundo Mauro Segura, diretor de comunicação e marketing, até hoje foram registrados dois casos de comportamento indevido na internet. Um deles foi a publicação de conteúdo da intranet no YouTube sem autorização da empresa. O segundo caso foi de uma funcionária que fez um comentário no seu blog ironizando uma decisão da IBM.

Ninguém foi demitido. “Acreditamos que a ação correta não é a punição, e sim a educação”, diz Segura. O problema é quando um conteúdo queima-filme se espalha pela web sem controle. A professora Jaqueline de Carvalho dos Santos, de 26 anos, foi demitida em junho da escola onde trabalhava por conta de um vídeo online em que ela aparece dançando sensualmente no palco. “Procurei trabalho em outras escolas e não tive sucesso. Foi culpa do vídeo”, diz. Pelo menos ela revelou um talento: hoje é dançarina da banda O Troco, que se apresentava no dia da gravação do vídeo que se espalhou na web.

Fail Twitter

Veja alguns exemplos de tuítes verdadeiros que estragam a reputação de qualquer profissional (e, em alguns casos, do bom português):

“Entendeu ou quer que eu desenhe? Minha chefe é tão burra que precisa de desenho e gráficos para entender as coisas!”

“Eu matei trampo quase o dia inteiro, vou lá no arquivo pra mexer um pouco na mesa e mostrar serviço...”

“xeguei no trampo...to cansado..tonto..bebado..lezado....axo q vou pegar folga na parte da tarde”

“Tomara que eu passe mal de verdade, tenha que voltar pra casa e fique uma semana de molho. #odeiomeuemprego”

Bem na fita

Veja se você anda contribuindo para a sua boa reputação online

-Tenho muitos seguidores de boa reputação no Twitter e meu perfil está incluído em listas de boa imagem:

-Seleciono meus contatos nas redes sociais e compartilho com eles informações profissionais não confidenciais;

-Evito criticar pessoas e empresas sem bons argumentos;

-Tenho um blog atualizado para falar da minha área e dou atenção aos leitores. Meu blog recebe links de outros blogs e tem muitos assinantes do RSS;

-Quando sou alvo de uma provocação, respondo só quando tenho informações adicionais que vão mudar a impressão dos internautas.

Fonte:http://info.abril.com.br

segunda-feira, 1 de março de 2010

A morte de um apaixonado

Língua e Literatura

Maior colecionadores de livros do Brasil, José Mindlin morreu ontem em São Paulo, aos 95 anos, depois de mais de um mês internado para tratar de uma pneumonia. Empresário do setor de autopeças por mais de 40 anos, Mindlin foi adquirindo, aqui e ali, raridades e mais raridades, como a primeira edição de Os Lusíadas e os originais corrigidos à mão por Guimarães Rosa de Grande Sertão: Veredas. Iniciada na década de 30, a coleção de mais de 40 mil volumes foi doada recentemente para a USP e integra agora a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Ele era membro da Academia Brasileira de Letras. E uma simpatia de pessoa. Ao jornal O Estado de S. Paulo, a escritora Lygia Fagundes Telles disse: “Era um homem apaixonado, muito delicado e dedicado. Quando eu revelava meu temor sobre o fim do livro em papel, ele respondia energético: ‘Nunca!’”. Já o presidente Lula declarou: “Com seu imenso amor à cultura, sua defesa da liberdade e sua conduta empresarial, prestou serviços extradiordinários ao País”. Vale lembrar que Mindlin se recusou a participar da Operação Bandeirante durante a ditadura militar. A seguir, indicamos algumas matérias sobre o bibliófilo publicadas hoje em O Estado de S. Paulo, que, diga-se, foi o primeiro lugar onde ele trabalhou. Para conhecer mais sobre a trajetória de Mindlin e acompanhar a repercussão de sua morte, clique aqui. A história de sua coleção Brasiliana e sua paixão pelos livros é contada em Mindlin, um mecenas que não fazia nada sem alegria. O artigo A generosidade do 'livreiro-mor', de Lilia Moritz Schwarcz, também merece destaque. Durante essa semana, o PublishNews vai dedicar suas frases diárias ao bibliófilo.