terça-feira, 12 de outubro de 2010

Biblioteca diminui evasão escolar

Ecofuturo faz um balanço dos resultados das ações empreendidas pelo Projeto Biblioteca Comunitária Ler é Preciso

Após 10 anos do Projeto Biblioteca Comunitária Ler é Preciso, o Instituto Ecofuturo, uma organização social de interesse público criada e mantida pela Suzano desde 1999, divulga pesquisa que revisita e traça um perfil do projeto, fazendo uso de metodologia que pode servir de referência à políticas públicas e ações privadas para implantação de bibliotecas. O trabalho, coordenado pelo pesquisador Ricardo Paes de Barros, ligado ao Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (IPEA), verificou a sustentabilidade das bibliotecas implantadas pelo Ecofuturo no modelo de gestão compartilhada entre poder público, comunidade e parceiros.

Para a realização do estudo foi avaliada a qualidade do serviço oferecido por 55 bibliotecas do projeto (atualmente, são 85 bibliotecas em 11 estados brasileiros), localizadas nos estados de Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. Para isso, foram construídos diversos indicadores que permitiram investigar as características da qualidade dos serviços, do grau de acessibilidade, do grau de utilização e da gestão de cada uma das bibliotecas.

Considerando as diversidades regionais das localidades onde estão instaladas e sua condição de ser uma biblioteca comunitária, a pesquisa concluiu que o principal diferencial do projeto é conseguir que essas bibliotecas continuem em funcionamento, mesmo depois de anos da sua instalação.

O modelo do projeto se baseia na implantação de Bibliotecas Comunitárias em locais de baixo índice de desenvolvimento humano, com o envolvimento e participação da prefeitura e diversos setores da sociedade em prol da democratização do conhecimento disponível nos livros. O Ecofuturo coordena todas as etapas do projeto, além de ser responsável pela articulação com a comunidade e o poder público local, que são envolvidos desde antes da implantação no processo, ficando a prefeitura com a responsabilidade pela manutenção da biblioteca – contratação e remuneração dos profissionais, infraestrutura, renovação de acervo etc - e a comunidade incentivada a colaborar com a gestão e a dinamização do espaço. A execução técnica fica a cargo da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), que seleciona o acervo inicial de 1000 livros e realiza os cursos de promotor de leitura e auxiliar de biblioteca para 30 pessoas da comunidade.

A pesquisa também apontou os recursos humanos como um dos fatores mais fortes para a sustentabilidade dessas bibliotecas. O estudo mostra que a média de funcionários por Biblioteca é de quatro pessoas (o mínimo sugerido na implantação são duas) com bom nível de escolaridade. A maioria dos funcionários está presente desde a implantação da biblioteca, o que denota baixo grau de rotatividade e, portanto, experiência na função, fator importante para articulação com a comunidade em uma biblioteca com gestão comunitária.

Segundo a pesquisa, o projeto também tem êxito no seu objetivo de atender crianças e jovens. O estudo aponta que 80% dos 2300 livros emprestados por ano são obras de literatura infanto-juvenil. O público médio anual de 5800 usuários por biblioteca, por sua vez, é composto, em grande parte, por crianças de 7 a 14 anos.

Ao longo do tempo, o acervo das bibliotecas também se expandiu, passando de 1300 para uma média de 4500 livros por BC. “A biblioteca é, sem dúvida, uma maneira de se oferecer livros à população. A simples oferta, contudo, não é suficiente para atrair a demanda e fazer com que as pessoas efetivamente leiam mais. É preciso fazê-las perceber que freqüentá-la pode trazer muito impacto para suas vidas”, enfatiza o pesquisador Ricardo Paes de Barros. A sustentabilidade dessas bibliotecas depende muito da atratividade que elas têm para a comunidade, ou seja, das atividades de incentivo e promoção à leitura, realizadas por 76% das bibliotecas investigadas na pesquisa. Gerando atratividade, as bibliotecas podem contribuir muito para o desenvolvimento das comunidades onde estão implantadas.

“Em um país como o Brasil, em que a cultura escrita em sua plenitude somente é oferecida a uma faixa da sociedade que pode comprar livros, a escola e a biblioteca se tornam instituições decisivas para que o acesso aos livros e a oportunidade de formação leitora chegue para a maioria. A parceria com o Instituto Ecofuturo, no projeto Biblioteca Comunitária Ler é Preciso, apresentou-se como uma oportunidade especial para a FNLIJ realizar uma ação de formação de leitores por meio de bibliotecas comunitárias em que a qualidade é o objetivo perseguido para levar o direito de ler ao maior número de pessoas das comunidades atendidas”, afirma a secretária geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Elizabeth Serra.

Impacto no desempenho escolar

A dimensão inédita do projeto tem a ver com o impacto das bibliotecas no desempenho educacional do público que as frequenta. Com informações do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) chegou-se a resultados surpreendentes. Um estudo paralelo ao de sustentabilidade, também patrocinado pelo Ecofuturo, compara o desempenho entre escolas no entorno das Bibliotecas do projeto e as demais escolas.

A pesquisa aponta que, entre 2000 e 2005, a taxa de evasão escolar em instituições públicas de ensino próximas das Bibliotecas, quando consideradas as diferenças socioeconômicas das localidades, diminuiu três pontos percentuais a mais do que em escolas que não estavam próximas das Bibliotecas Comunitárias Ler é Preciso. Isso significa que o programa potencializou em 46% o progresso natural desse índice nas regiões de impacto do projeto. Com relação às taxas de aprovação escolar, os números são ainda mais expressivos. Escolas no entorno das Bibliotecas do projeto registraram uma elevação de 6,1 pontos percentuais nesta taxa, na comparação com as demais escolas, o que elevou em 156% o progresso natural que essas instituições de ensino teriam se não tivessem sido beneficiadas pelo projeto.

A cada ano, o progresso socioeconômico dos municípios e comunidades faz com que o desempenho da educação melhore. No entanto, segundo Paes de Barros, “ter uma biblioteca do Ecofuturo permite às comunidades melhorarem mais rápido do que se contassem apenas com o progresso socioeconômico”.

Além de comprovações importantes, a pesquisa de sustentabilidade também indicou pontos de atenção comuns às bibliotecas e que devem ter um tratamento adequado para que elas possam cumprir o seu papel junto às comunidades. “Um dos pontos foi a necessidade de dedicar mais atenção à criação e consolidação de um modelo de gestão participativa, com maior envolvimento da comunidade, bem como propiciar condições para a formação continuada e intercâmbio dos profissionais que trabalham nas bibliotecas, fatores altamente relevantes para que a o projeto seja efetivo no objetivo de colaborar com a instituição de uma cultura de leitura e de biblioteca”, explica Christine Fontelles, diretora de Educação e Cultura do Instituto Ecofuturo.

Neste sentido, outro importante diferencial do estudo é que os questionários idealizados para a pesquisa de sustentabilidade e os indicadores estruturados serão disponibilizados pelo Instituto, de modo que possam ser utilizados por organizações que queiram avaliar os projetos de biblioteca que apoiam e patrocinam, sejam iniciativas públicas, privadas ou da sociedade civil. Os indicadores podem basear e alimentar um sistema de gestão por resultados, que permite acompanhamento mais de perto do desempenho e sustentabilidade de bibliotecas, bem como a implementação de um sistema de valorização dos trabalhos de promoção de leitura de maior destaque.

“Tudo foi concebido para ser amplamente compartilhado entre todos os que estão envolvidos em atender a demanda nacional por leitura de maneira consistente e sustentável, de forma que, definitivamente, dê conta do enorme déficit existente no País”, conta Christine. O Instituto Ecofuturo já está utilizando os indicadores sintéticos construídos com base na pesquisa para a criação de um sistema de monitoramento remoto das bibliotecas comunitárias que deve ser implementado em 2011. O sistema permitirá a construção de um modelo de avaliação participativo, de mão dupla, que inclua a comunidade, o poder público local, o Ecofuturo, a FNLIJ e todos os parceiros do projeto.

Fonte: PublishNews

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